De inimigos a aliados

O que Lula e Alckmin já disseram sobre cada um, dos ataques ao namoro político

Em 2006, quando Lula tentava a reeleição à Presidência, seu principal concorrente era Geraldo Alckmin. Durante um debate entre os dois candidatos ao Palácio do Planalto, o ex-tucano definiu o governo petista da seguinte maneira: “Parado na economia e acelerado nos escândalos”. Em outro, Lula denunciou a existência de focos de corrupção na gestão estadual comandada pelo oponente. “De corrupção você entende”, rebateu Alckmin.

Nos meses seguintes, Lula passou a reclamar do “baixo nível” dos debates. “Não pensei que estava na frente de um candidato”, observou. “Pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia.”

Alckmin reagiu. “O tom não foi agressivo”, salientou. “Estou absolutamente zen. Inclusive, dormi tranquilo. Estou com a consciência tranquila. O Lula não pode achar que é normal essa mentirada toda que fala pelas costas. Eu falo a verdade – e frente a frente.”

O petista apostou na tréplica. “O projeto deles é de pessoas que falam de nariz em pé e com arrogância”, criticou. “Isso é muito pobre. Alckmin é uma sanfona quebrada, que faz o mesmo som de arrogância na campanha inteira.”

Doze anos depois

Em agosto de 2014, após a escolha de Alexandre Padilha como candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, uma coluna publicada no site da revista Veja constatou que, em São Paulo, o PT não lança candidatos a governador; lança ameaças. “A afirmação se apoiava na fila puxada por Lula em 1982 e engrossada, nos anos seguintes, por gente como José Dirceu, Marta Suplicy, José Genoíno ou Aloizio Mercadante”, explicou Augusto Nunes, em artigo publicado na Edição 106 da Revista Oeste. “Posso usar essa frase na minha campanha?”, perguntou Alckmin ao colunista. Liberado, o tucano usou a expressão para lembrar que Padilha era o perigo da hora.

As hostilidades continuaram. “Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu”, disse Lula, referindo-se a Alckmin, então chefe do Palácio dos Bandeirantes. “É insosso, como se fosse comida sem sal. Nunca fala de nenhum problema do Estado, nunca responde por nada.”

No ápice da Lava Jato, Alckmin confrontou as declarações do petista. “O presidente Lula se vangloriava de que, pela primeira vez na história do Brasil, a polícia tem independência para investigar”, lembrou. “Então, não pode agora usar de subterfúgios para fugir da Justiça. Isso é inadmissível.” E arrematou: “O Lula é o Partido dos Trabalhadores. É o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites”.

O petista não deixou barato. “Seria mais proveitoso para a população de São Paulo se a imprensa perguntasse e o governador explicasse os desvios nas obras do metrô e na merenda escolar”, observou.

Em 2017, Lula reagiu novamente às declarações do tucano. “Eu, quando disputei a eleição com o José Serra, era uma coisa civilizada”, tuitou. “Depois, com o Alckmin, não foi. Ele parece que mamou até os 14 anos.”

Eu quando disputei a eleição com o Serra era uma coisa civilizada. Depois com o Alckmin não foi. Ele parece que mamou até os 14 anos.

– Lula (@LulaOficial) July 20, 2017

Alckmin voltou a subir o tom. “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, quer voltar à cena do crime”, afirmou, em meio à onda de pré-campanhas à Presidência. “Nós o derrotaremos nas urnas. Lula será condenado nas urnas pela maior recessão da História.”

Diante dos rumores de uma possível chapa com Lula nas eleições de 2018, o tucano foi à internet para rechaçar a ideia. “Não existe a menor chance de aliança com o PT”, avisou Alckmin. “Vou disputar e vencer o segundo turno, para recuperar os empregos que eles destruíram saqueando o Brasil. Jamais terão o meu apoio para voltarem à cena do crime.”

2022

Quatro anos depois, Alckmin mudou de ideia. “Nós temos de ter os olhos abertos para enxergar e ter a humildade de entender que Lula é hoje aquele que melhor reflete o sentimento de esperança do povo brasileiro”, disse o tucano, em discurso para integrantes do PSB, seu novo partido. “Lula representa a democracia porque é fruto dela. Por ter conhecido as vicissitudes, é quem interpreta o sentimento da alma nacional.”

Nesta sexta-feira, 8, Lula disse o seguinte: “Nossa vontade é de reconstruir o Brasil. A partir de agora é companheiro Alckmin e companheiro Lula”.


Publicado em 16/09/2022 14h59

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