
O Esforço da China para Apagar a Memória: Na China, não há cerimônias ou atos oficiais para lembrar o massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, que aconteceu nos dias 3 e 4 de junho de 1989
Em vez disso, o governo faz um grande esforço para que esse evento seja esquecido.
Todos os anos, nas semanas antes da data, a censura entra em ação. Uma enorme rede de computadores e milhares de pessoas trabalham para apagar qualquer menção ao massacre na internet, mesmo que sejam referências indiretas.
Quem tenta falar sobre o assunto ou compartilhar algo relacionado pode ser preso. As penas podem chegar a três anos e meio de prisão. Até mesmo postar uma imagem nas redes sociais, como o Twitter (que a maioria dos chineses não acessa), pode levar à cadeia.
Em uma rara declaração sobre o massacre, o ministro da Defesa da China, Wei Fenghe, disse em 2019 que a repressão aos protestos foi a “decisão certa”. Ele chamou os eventos de “turbulência política” e defendeu as ações do governo. Naquele ano, o massacre completava 30 anos.
Os protestos de 1989 eram liderados por estudantes que pediam mais democracia. A repressão foi violenta e deixou milhares de mortos, mas até hoje o número exato de vítimas é desconhecido.

Vigilância até nos Cemitérios
Meses antes do trigésimo aniversário do massacre, durante o festival chinês que homenageia os mortos, a BBC acompanhou Zhang Xianling, uma senhora de 81 anos. Ela é mãe de Wang Nan, um jovem de 19 anos que foi baleado na cabeça durante o massacre. Como faz todos os anos, Zhang planejava levar flores ao cemitério onde estão as cinzas de seu filho, em Pequim. Mas, ao chegar, ela encontrou o local cheio de seguranças vigiando a lápide da família.
Jornalistas da BBC foram interrogados por policiais, que checaram seus documentos. Zhang foi escoltada pela polícia para evitar contato com a imprensa. Esse tipo de vigilância mostra como o governo tenta controlar até as memórias pessoais das vítimas.

Imagens que o Mundo Não Esquece
A BBC tem um arquivo com muitas imagens do que aconteceu na Praça da Paz Celestial. Os vídeos mostram soldados avançando, atirando contra a multidão, e manifestantes em pânico tentando levar os feridos para o hospital, a pé ou de bicicleta. Corpos ensanguentados aparecem nas gravações.
Margaret Holt, uma turista britânica que estava em Pequim em 4 de junho de 1989, testemunhou a violência. Ela viu um soldado atirando sem parar contra a multidão. “Três jovens se ajoelharam pedindo para ele parar, e ele os matou”, contou. “Um idoso levantou a mão para atravessar a rua, e ele atirou nele também.” Quando as balas do soldado acabaram, a multidão, revoltada, o cercou e o enforcou em uma árvore.
Essas cenas, que duram apenas alguns segundos, mostram a brutalidade usada para acabar com um protesto pacífico e a raiva de quem foi reprimido. Elas também explicam por que o governo chinês trabalha tanto para evitar que se fale sobre o massacre.

Como Tudo Começou
Os protestos de 1989 começaram após a morte de Hu Yaobang, um líder do Partido Comunista que defendia ideias de liberdade econômica e política. Estudantes foram às ruas para homenageá-lo e logo começaram a pedir reformas, como liberdade de imprensa, fim da corrupção e mais democracia.
Em Pequim, a Praça da Paz Celestial, um lugar simbólico no coração da capital, chegou reunindo um milhão de pessoas. Havia bandeiras, cartazes e barracas montadas pelos manifestantes. Na mesma época, o líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, visitava a China, e muitos acreditavam que o país estava perto de uma grande mudança.
Mas o Partido Comunista estava dividido. Alguns queriam negociar, outros defendiam uma resposta dura. No fim, os que queriam repressão venceram. Na noite de 3 de junho, tanques e soldados invadiram a praça, atirando contra a multidão. Alguns manifestantes reagiram jogando coquetéis molotov, mas a violência do exército foi avassaladora.
Não há dados oficiais sobre quantos morreram. Jornalistas que estavam lá estimam entre 2 mil e 3 mil mortes. Um documento diplomático da época fala em até 10 mil.

O “Homem do Tanque”
Um dos momentos mais marcantes do massacre aconteceu no dia 5 de junho, quando um homem sozinho enfrentou uma fila de tanques na Praça da Paz Celestial. Ele ficou na frente dos tanques, se movendo para bloquear o caminho deles, segurando apenas duas sacolas de compras. Em certo momento, subiu no tanque principal para protestar.
Essa imagem se tornou um símbolo mundial de coragem contra a repressão. Mas, na China, ela foi apagada da memória coletiva. A BBC perguntou a pessoas nas ruas se conheciam a foto, e 80% disseram que não. Alguns pareciam sinceros, outros pareciam ter medo de admitir que sabiam.
O “homem do tanque” não foi morto ali, mas foi levado pelas autoridades, e ninguém sabe o que aconteceu com ele.

A China de Hoje
Trinta anos depois, a Praça da Paz Celestial parece quase igual às imagens de 1989. Mas a China mudou muito. O país ficou mais rico e poderoso, e o governo questiona reportagens que dizem que o massacre ainda é importante.
Bao Tong, um ex-funcionário do governo que apoiou os protestos, passou sete anos na prisão por isso. Ele diz que todos os líderes chineses desde 1989 defendem o massacre como uma “lição valiosa” para o sucesso do país. Bao acredita que, se as pessoas pudessem falar livremente sobre o que aconteceu, a verdade viria à tona.
Mas Bao é vigiado e foi proibido de dar entrevistas após falar com a BBC. Ele sonha com uma China mais justa, sem censura na internet, sem privilégios para poucos e onde trabalhadores pobres tenham liberdade.

Um Passado Silenciado
Os protestos de 1989 trouxeram esperança de mudança, mas a repressão adiou qualquer possibilidade de reformas políticas por décadas. O Partido Comunista decidiu que manteria o poder a qualquer custo e nunca mais permitiria movimentos populares que desafiassem seu controle.
Hoje, na China, os mais velhos não podem lembrar publicamente, e os jovens não têm permissão para saber o que aconteceu. O esforço para “esquecer” o massacre da Praça da Paz Celestial continua tão forte quanto nunca.
Publicado em 17/04/2025 06h25
Texto adaptado por IA (Grok) do original. Imagens de bibliotecas de imagens ou origem na legenda.
Artigo original:
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