Exposta no Palais de Tokyo, em Paris, a obra da pintora suíça Miriam Cahn foi acusada de pornografia infantil por um deputado e associações do RN.
ART – O tribunal administrativo de Paris rejeitou as associações de defesa dos direitos da criança que solicitavam a remoção do quadro Fuck abstraction do Palais de Tokyo, que consideraram pornografia infantil, segundo um despacho emitido esta terça-feira, 28 de março.
Esta pintura da artista suíça Miriam Cahn representa “a silhueta de um homem de corpo muito poderoso, sem rosto, que impõe felação a uma vítima de constituição muito frágil” e com as mãos atadas, descreve o tribunal, apreendido em processo sumário (procedimento emergencial) pelas associações Juristas da Criança, Infância Compartilhada, Diante do Incesto e Inocência em Perigo.
Esta obra é alvo de polémica, sendo que estas associações a consideram uma obra de natureza pornográfica infantil, nomeadamente face ao museu e aos defensores da liberdade artística. 12.000 pessoas assinaram uma petição online para pedir sua remoção.
Os horrores da guerra
Questionada pela deputada do Comício Nacional Caroline Parmentier, a ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, apelou na semana passada a não “misturar tudo”, reafirmando a “luta pela proteção das crianças e contra todas as formas de violência”. “Você viu a exposição inteira?” Você se comunicou com os mediadores? Você leu as explicações? Porque não se pode tirar uma obra do seu contexto”, continuou ela, citando as palavras da própria artista.
O tribunal administrativo, que ouviu as partes esta segunda-feira em audiência, considerou que “a obra não pode (…) ser entendida fora do seu contexto e da obra da artista Miriam Cahn que pretende denunciar os horrores da guerra, como recordou no documento de apresentação do evento distribuído ao público.
Ele explica que “trata da forma como a sexualidade é usada como arma de guerra e se refere aos abusos cometidos na cidade de Boutcha, na Ucrânia, durante a invasão russa, representando cruamente a violência sofrida pela população ucraniana”.
O tribunal sublinha ainda que o Palais de Tokyo optou por expor a pintura “numa sala separada de outras obras susceptíveis de chocar o público” e colocou sinais de alerta e mediadores susceptíveis de responder às perguntas do público.
“Liberdades fundamentais”
“Desde 17 de fevereiro de 2023, a exposição recebeu 45 mil visitantes sem qualquer dificuldade tendo sido notada pelo Palais de Tokyo, que não recebeu reclamações ou denúncias de visitantes e não identificou nenhum menor visitando apenas a exposição”, acrescenta. em sua ordem.
“Muito decepcionante”, reagiu à AFP o advogado do Face à l’inceste, Me Mathieu Dahan. “A coerência cenográfica da exposição, que no seu conjunto mostra muitas crianças, e a da obra exigem que vejamos uma criança. Dizer-nos que há uma parte realista e outra onírica só para esta pintura disputada não é convincente”, denunciou.
Num comunicado de imprensa, o Palais de Tokyo saudou a decisão que “defende as liberdades fundamentais” e “prova que tem razão”. No entanto, lamenta “a instrumentalização desta obra de arte e o desprezo pelo papel fundamental que os museus desempenham em todo o mundo na defesa das liberdades no respeito pelos direitos humanos”.
Publicado em 30/07/2024 03h40
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