Lula tenta se descolar dos escândalos do passado do PT

(crédito: Ricardo Chicarelli/AFP )

Líder nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta vender a imagem de um novo PT, afastado das imperícias e das condenações que impactaram o partido no passado. Em entrevista, ontem, ele enfatizou que, num eventual terceiro mandato, não integrarão o governo nomes históricos da legenda, como a ex-presidente Dilma Rousseff, cuja gestão foi considerada desastrosa; o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o ex-deputado José Genoino, ambos sentenciados por corrupção (leia quadro).

Lula recuperou os direitos políticos após ter duas condenações na Lava-Jato – nos casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia – anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Não tem sentido uma ex-presidente da República trabalhar de auxiliar em outro governo. Tenho profundo respeito pela Dilma, tem uma competência técnica extraordinária, mas tem muita gente que surgiu desde que governamos o país. Tem muita gente nova aí”, comentou Lula à Rádio Super, de Belo Horizonte. Ele também destacou respeito por José Dirceu e José Genoino, mas frisou que nenhum deles aceitaria um cargo no governo.

Para Leandro Consentino, cientista político do Insper, o antipetismo, deflagrado pela série de escândalos, e a avaliação negativa do governo Dilma “jogam contra Lula”. “É uma bola de ferro, porque traz histórico complicado do ponto de vista ético. É plenamente compreensível que Lula queira passar essa imagem. A questão é se o eleitor vai comprar essa figura 2.0”, ressaltou.

Ricardo Ribeiro, sócio da Ponteio Política, destacou a dificuldade do PT de administrar a imagem deixada por Dilma. “Ao mesmo tempo, não podem abrir mão integralmente da defesa do governo dela nem de voltar atrás no discurso de que houve um golpe”, disse. “Ele (Lula) sabe que ela é uma figura polêmica, impopular, que deixou indicadores ruins na economia. Será colocada em segundo plano na campanha.”

Professor de relações institucionais do Ibmec-DF, Eduardo Galvão comentou que “Lula, estrategicamente, está pensando no antipetismo na hora de compor essa coalizão”. “Então, faz muito mais sentido ele trazer partidos que consigam agregar outros valores,, trazer outro eleitorado”, afirmou. “Por isso, a decisão de trazer Geraldo Alckmin para a chapa dele, que é um candidato que dialoga bastante com o setor produtivo. Há, então, a preocupação inicial, que é aumentar a competitividade eleitoral.”


Publicado em 21/09/2022 01h23

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