Irã dissolve a Polícia da Moralidade

Um manifestante segura uma foto de Mahsa Amini durante protestos na Turquia no mês passado

A polícia da moralidade do Irã, encarregada cumprir o código de vestimenta islâmico, está sendo dissolvida, afirmou o procurador-geral do país.

Os comentários de Mohammad Jafar Montazeri, ainda não confirmados por outras instituições do governo, foram feitos num evento neste domingo (4).

O Irã tem visto meses de protestos pela morte de uma jovem que estava sob custódia das autoridades.

Mahsa Amini foi detida pela polícia de moralidade por supostamente quebrar as regras sobre a necessidade de cobrir a cabeça.

Montazeri estava em uma conferência religiosa quando lhe perguntaram se a polícia da moralidade seria dissolvida.

“A polícia da moralidade não tem nada a ver com o Judiciário e foi fechada a partir de onde havia sido instalada”, respondeu.

O controle desta força depende do Ministério do Interior, e não do Poder Judiciário do país.

No sábado, Montazeri também pediu para o parlamento iraniano examinar a lei que exige que as mulheres usem hijabs.

Mesmo que a polícia da moralidade seja realmente fechada, isso não significa que a lei instalada há décadas será alterada.

Protestos liderados por mulheres, rotulados de “distúrbios” pelas autoridades, varreram o Irã desde que Amini, de 22 anos, morreu sob custódia em 16 de setembro, três dias após sua prisão pela polícia da moralidade na capital Teerã.

A morte dela foi o catalisador das manifestação, que também foram impulsionadas pelo descontentamento com a pobreza, o desemprego, a desigualdade, a injustiça e a corrupção.

‘Uma revolução’

Se confirmado, o desmantelamento da polícia da moralidade seria uma concessão aos manifestantes, mas não há garantias de que seria suficiente para deter os protestos.

“O fato de o governo decidir dissolver a polícia da moralidade não significa que os protestos terminarão”, disse uma iraniana ao programa Newshour, do Serviço Mundial da BBC.

Manifestações também estão ocorrendo fora do Irã, como visto em Londres

“Também não será suficiente que se diga que o hijab é uma escolha pessoal. As pessoas sabem que o Irã não tem futuro com este governo no poder. Veremos mais pessoas de diferentes grupos da sociedade iraniana saindo em apoio às mulheres, para que elas obtenham os direitos de volta.”

Outra mulher declarou: “Nós não nos importamos mais com o hijab. Temos saído sem ele nos últimos 70 dias.”

“O que temos é uma revolução. O hijab foi o começo e não queremos nada, a não ser a morte do ditador e uma mudança de regime.”

O Irã adotou várias formas de “polícia da moralidade” desde a Revolução Islâmica de 1979. Mas a versão mais recente – conhecida formalmente como Gasht-e Ershad – funciona como a principal agência encarregada de garantir o código de conduta islâmico.

As patrulhas começaram em 2006 com o objetivo de cumprir as exigências de vestimenta, que também determinam que as mulheres usem roupas compridas e proíbem shorts, jeans rasgados e outras roupas consideradas indecentes.


Publicado em 04/12/2022 22h39

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